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A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) divulgou no começo desse mês um relatório afirmando o que ambientalistas e cientistas vêm constatando há anos: pesticidas neonicotinóides estão devastando as colônias de abelhas das Américas (você pode ler um artigo da Harvard sobre isso aqui).

O relatório da EPA revela que os pesticidas dessa classe estão causando um grave risco para as abelhas e deve barrar seu uso até o final do ano. Neonicotinóides são pesticidas derivados da nicotina e atuam no sistema nervoso de insetos.

Agricultores evitam (ou deveriam evitar) aplicar pesticidas na época da florada para minimizar o contato das abelhas com o produto. Porém os neonicotinóides são pesticidas sistêmicos e persistentes, ou seja, viajam por toda a planta, incluindo flores e néctar, e mesmo muito tempo depois da aplicação. Pesquisas mostram que esses compostos permanecem no solo e arredores por até cinco anos.

A quantidade da substância para afetar abelhas é pequena. Com apenas 25 partes por bilhão de concentração do produto já há danos à colmeia, reduzindo drasticamente o número de abelhas, inclusive a abelha rainha.

A Europa já proíbe o uso dessa classe de pesticidas desde 2013. No Canadá, os apicultores estão processando as gigantes Bayer e Syngenta em US$450 mi alegando que os neonicotinóides estão prejudicando as colônias, matando as abelhas e causando prejuízos aos negócios.

4405587_7_8138_tous-les-habitants-du-village-en-age-de_7ccf54006c5c39df711dd3160716440fNos Estados Unidos calcula-se que o desse pesticida já tenha destruído mais de 10 milhões de colônias de abelhas desde 2006. Cada colônia é avaliada em US$200, contabilizando uma perda total de pelo menos US$2bi.

No Brasil esse tipo de pesticida está em dois produtos comercializados pela Bayer: Poncho e Gaucho. Amplamente usados nas plantações de milho, soja, fumo, feijão, algodão, trigo, abacaxi, entre outras. Em 2008 a Bayer suspendeu temporariamente um dos produtos com o ativo clotianidina, mas, segundo comunicado da própria empresa no mesmo ano, a poeira das sementes tratadas com o composto já havia contaminado plantios adjacentes visitados por abelhas para a coleta de pólen e néctar.

Aparentemente essa nuvem de poeira também é afetada por algumas máquinas de plantio do próprio milho e pelas semanas de seca e ventos durante o plantio. Como resultado desse cenário, as colônias de abelhas se enfraquecem e sofrem perdas em massa de indivíduos.

Bom lembrar que abelhas são agentes polinizadores de inúmeras espécies de plantas muito consumidas por nós, ou seja, podemos esperar queda na produção de algumas frutas e outros alimentos, além de grave desequilíbrio na cadeia alimentar de ecossistemas inteiros que dependem dos frutos polinizados pelas abelhas.

 

Agricultora chinesa polinizando as macieiras

Sobre a foto de abertura deste artigo, trata-se de um dos “homens-abelha”, na China, que polinizam as plantas onde as abelhas foram erradicadas pelos pesticidas. O trabalho não é simples, no começo da primavera eles colhem o pólen que será depositado nas flores alguns dias depois, em função do amadurecimento das partes das plantas. Ficam pendurados nas árvores, retirando o pólen delicadamente com um pincel, tentando alcançar todas as flores de todos os galhos. O trabalho que se repete para a polinização e o risco de queda é iminente.

Será que é isso que queremos pro nosso país?

foto Gilles Sabrie para Le Monde

 bióloga especialista em gestão ambiental, esportista e amante da arte. Posta também no Twitter e Facebook.
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