No final dos anos sessenta emergia a Ecodiplomacia, que visa o debate entre os países acerca das questões ambientais de impacto global. Paralelamente e inserido nesse contexto, surge a teoria demográfica conhecida como Ecomalthusianismo. Essa teoria foi defendida pelo Clube de Roma, formado por cientistas, economistas e funcionários governamentais de alto escalão, e baseia-se na idéia de que o sistema global é formado por recursos finitos em acelerado processo de desgaste diante do crescimento populacional e das demandas produtivas do mundo contemporâneo. A lógica é que quanto maior é a população, maior o consumo dos recursos naturais.

Tendo em vista tal lógica, o Clube de Roma propôs o controle da natalidade nos países de maior crescimento populacional – leia-se países da América Latina, África e Ásia. Além disso propôs uma mudança estrutural da economia que deveria passar de uma economia de produção para uma “economia de serviços”[1]. E é exatamente quando recomenda o controle da natalidade nos países pobres que a teoria perde sua lógica pois deve-se considerar as desigualdades no padrão de consumo entre os países centrais e os periféricos.

Esta é uma teoria demográfica que impõe as responsabilidades pelo desastre ambiental mundial sobre os países pobres e defende que são estes que devem controlar suas taxas de natalidade. No entanto permite-se esquecer de avaliar a desigualdade existente na distribuição dos recursos naturais e no consumo desses recursos – que é alto nos países centrais e limitado nos países periféricos. A questão resolve-se, portanto, ao se compreender que é a distribuição e o consumo desigual dos recursos que gera tais diferenças entre os países.

De lá para cá despontaram novas ideias como o desenvolvimento sustentável, a agenda 21 (durante a Rio-92) e o protocolo de Kioto que, apesar de representarem uma mudança teórica significativa, em termos práticos deixaram poucos efeitos realmente sensíveis. Os Estados Unidos – os maiores poluidores – não se comprometeram com as reduções sugeridas em Kioto. Já a China até poucos dias se recusava a discutir limites de emissão. Mas no último mês de setembro, em meio aos encontros promovidos pela ONU, parece ter ocorrido uma “dupla ruptura” importante para o planeta[2].

De um lado, Obama reconhece o fenômeno climático – que seu antecessor sequer reconhecia – e se compromete com medidas anti-aquecimento. De outro lado o presidente da China, Hu Jintao, admite a discussão de limites para a emissão e anuncia também algumas medidas anti-aquecimento. Enquanto Obama afirma que avanços internos nesse sentido dependem da agenda nacional, muito ocupada com a reforma no sistema de saúde, Hu Jintao exibe a intenção de por em prática medidas mais consistentes, como o aumento do uso de combustíveis limpos e do reflorestamento no seu país, ofuscando o brilho da figura do presidente norte-americano no encontro patrocinado pela ONU.

E é exatamente este ponto – a ausência de uma legislação ambiental consistente e com metas bem definidas nos Estados Unidos – que deve levar o acordo a ser assinado em dezembro, na cidade de Copenhague, a capital dinamarquesa, ao fracasso. Pelo menos na opinião do experiente diplomata argentino Raúl Estrada-Oyuela, que presidiu a conferência do clima que deu origem ao protocolo de Kioto, em 1997. [3] Isso porque a não-mobilização dos Estados Unidos compromete os esforços das outras nações. O diplomata propõe, então, que o encontro seja reconvocado para 2010 a fim de permitir que os senadores norte-americanos aprovem a lei de mudanças climáticas que já está aprovada pelos deputados do país.

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Este é o primeiro post de Diego Moreira, um dos novos colaboradores do blog eco4planet. Diego é Geógrafo e Professor de Geografia da rede privada de ensino do Rio de Janeiro. Seja bem-vindo!

 

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Fontes:

[1] MAGNOLI, Demétrio. ARAÚJO, Regina. Projeto de Ensino de Geografia. Geografia Geral. Ed. Moderna. São Paulo, 2004. p.p.: 239

[2] ANGELO, Claudio. China supera EUA em cúpula climática. Folha de São Paulo. Caderno de Ciência. 23/09/2009.

[3] ANGELO, Claudio. EUA barram Copenhague, diz diplomata. Folha de São Paulo. Caderno de Ciência. 24/10/2009.

Imagem via climaticoanalysis.org

 Geógrafo e Professor de Geografia da rede privada de ensino do Rio de Janeiro.
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