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Este ano o fantasma do apagão voltou a assombrar os brasileiros quando, em um pico de demanda numa tarde quente de verão, a geração teve que ser cortada para não sobrecarregar o sistema. Em outras palavras, a geração de energia no Brasil não está dando conta da demanda. Com um detalhe: o crescimento da demanda está acanhado devido a estagnação econômica.

É como uma tempestade perfeita, mas sem chuva, em pleno sol: a longa estiagem e a falta de água nas bacias do sudeste e nordeste se somam aos atrasos nas obras de geração e de transmissão de energia (segundo o TCU, devido especialmente a problemas de planejamento), também à fragilidade financeira atual dos agentes do sistema elétrico e à relutância dos órgãos reguladores em promover o racionamento e a economia de consumo.

Nos dias que se seguiram ao corte preventivo de energia, o Brasil teve de importar entre 500 e 1 mil MWh de energia da Argentina para atender os picos de demanda.

Há um ano, propus em artigo publicado em 12 de fevereiro, que o Brasil entrasse de cabeça na energia solar instalando 1 mil MWh de capacidade de geração solar distribuída para atender os períodos de pico de demanda que se deslocaram para as tardes quentes de verão.

No verão, quando mais calor se propaga, maior a demanda de refrigeração e, portanto, de energia e é ai que a energia solar entra, pois é justamente nestas condições que os painéis solares atingem o pico de sua capacidade. Ao gerarem de forma distribuída (exemplo: telhados), os painéis reduzem a necessidade de transmissão de grandes quantidades de energia para atender os picos. É como se formassem um colchão de amortecimento.

Na Alemanha e na Espanha, a energia solar chega a representar metade da geração nos momentos de pico do verão. Embora represente menos de 5% do consumo geral durante todo o ano, cumpre papel fundamental de segurança para o sistema elétrico.

A energia solar avança de forma fulminante no planeta. Entre os anos 2000 e 2014, a capacidade instalada subiu de 1 GW para pelo menos 180 GW (mais do que todo o potencial de geração elétrica do Brasil com todas as fontes juntas). Em termos de energia produzida, em 2014 e pela primeira vez, a energia solar superou 1% do total de energia elétrica gerada no mundo. Na Itália, superou 8% de toda energia produzida. No final de 2014, mais de 20 países já tinham instalado mais de 1 GW de potencial de geração solar.

No Brasil, continuamos desperdiçando esta imensa oportunidade e realizando leilões de novas termoelétricas, inclusive de carvão que, além de chegarem à maturidade depois de muitos anos e não resolverem os problemas emergentes, são fontes geradoras de grandes emissões de CO2.

O modelo regulatório para geração solar distribuída é desestimulante e trava a sua expansão (exemplo: não permite ao gerador vender sua energia para rede). Com uma revisão objetiva e cirúrgica da regulação, o Brasil poderia implantar, em 2015, pelo menos 1 GW de energia solar distribuída que nos permitira enfrentar os picos de energia que tendem a se repetir cada vez mais no verão devido ao aumento da temperatura.

A China instala, por mês, quase 2 GW e a Índia 1 GW. Não tem porque não podermos produzir 1 GW por ano!

Com a mudança de comando no Ministério de Minas e Energia e um novo governo em formação, renova-se a esperança de o Brasil acordar para a energia solar. Os primeiros sinais, contudo, não são muito alvissareiros. Em vez de estimular a geração solar o ministro anunciou que pretende estimular as empresas a ligarem seus geradores termoelétricos próprios para injetar energia na rede. Caros, sujos e concentrados. Somos mais criativos que isso.

Um exemplo das grandes oportunidades para refletir: o Greenpeace lançou campanha para colocar painéis solares em duas escolas públicas. Trata-se de um projeto piloto, mas que pode ser escalado facilmente. Com pouco menos de 200 m² de painéis, é possível gerar cerca de 1200 KW mensais, o que pode representar até 50% do consumo de energia da escola. Existem cerca de 190 mil escolas de ensino básico no Brasil, 150 mil delas públicas (80% municipais). Se 50% das escolas públicas fossem dotadas de projeto semelhante, daria para gerar mais de 1 milhão de MW por ano. Considerando que as térmicas começaram o ano custando R$ 1 mil por MW, teríamos uma economia de, pelo menos, R$ 1 bilhão de reais, além de milhões de toneladas de CO2 que deixariam de ser emitidas.

Esse mesmo modelo pode ser incentivado em granjas (áreas enormes em geral já voltadas para a face norte), armazéns, fábricas e toda sorte de infraestrutura com grandes áreas de cobertura.

O governo que criou programas de larga escala e altamente distribuídos como Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família, Pronatec, entre outros, precisa abraçar esta oportunidade.

Esta e minha segunda tentativa! Torço para que não precisemos de uma terceira no próximo ano.

 

Artigo por Tasso Azevedo, publicado originalmente em seu blog pessoal e republicado com permissão. Tasso é Engenheiro florestal, consultor e empreendedor social em sustentabilidade, floresta e clima. Coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG), colunista de O Globo e curador do Blog do Clima. Foi Diretor Geral do Serviço Florestal Brasileiro e Diretor Executivo do Imaflora.
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