Recentemente estive em Buenos Aires e, diferente de outras viagens, ao retornar ao Brasil as pessoas não me perguntavam apenas se eu tinha ido aos monumentos históricos ou aos restaurantes fantásticos com jantares à luz de velas e shows de tango.

As perguntas sobre a cidade vinham sempre acompanhadas de “Você foi ao Zoo de Lujan, né?”, e ao responder que não, o olhar das pessoas era de como se eu tivesse perdido um dos principais pontos turísticos da cidade, o que de fato e infelizmente, ainda é.

Além de não ter ido, eu sou totalmente contra a existência daquele zoológico, principalmente daquele zoológico! Meu estômago revira toda vez que vejo um leão completamente sedado em fotos com turistas, um filhote de poucos meses passando de colo em colo por horas seguidas todos os dias, apenas para entretenimento… Ursos da mesma forma, diariamente sedados e obrigados a interagir com os visitantes, dentre dezenas de outras coisas absurdas que aquele zoológico “oferece”.

 

Zoológico de Lujan, Buenos Aires/Argentina

 

A maior parte das pessoas que conhecemos hoje é contra maus tratos, touradas, contra testes de cosméticos em animais e etc, e isso é ótimo! Mostra que a informação sobre maus tratos e animais em condições de tortura mobilizou a população para que boa parte dela fosse sensibilizada e se posicionasse em relação à questão. Então por que ainda nos conformamos com zoológicos? Veja bem, eu não sou lá nenhum exemplo de pessoa tão ecologicamente-correta, mas você não precisa ser um super engajado na causa animal para se revoltar com o sofrimento desnecessário de uma vida que, assim como você, sente dor, alegria, tristeza, fome e cansaço.

A empatia do povo brasileiro com os bichos fez com que fosse aprovada a Lei Federal 10.220, que proíbe a participação de animais selvagens e domésticos em circos em todo território nacional, um avanço enorme em termos de conscientização e respeito aos outros seres que dividem o planeta conosco.

Porém, a maioria dos animais remanescentes de circos foram parar em zoológicos ao invés de santuários ecológicos e, literalmente, só trocaram uma jaula por outra um pouquinho maior.

Com a tecnologia moderna, não poderíamos ter um museu com bonecos animados em tamanho real dos animais? As pessoas pagam preços exorbitantes para visitarem museus de cera com figuras de celebridades! Qual a necessidade de, hoje em dia, mantermos um animal em condições de tortura apenas para entretenimento humano? Como temos coragem de levarmos nossas crianças para ver animais confinados em espaços minúsculos, em condições absurdas e cruéis por uma vida inteira?

Sem falar no número de mortes humanas em zoológicos, sejam tratadores e funcionários ou os próprios visitantes, é comum vermos notícias de crianças que caem em jaulas ou pessoas mortas ou severamente machucadas por animais em acidentes nestes locais.

Os animais de zoológicos têm seus direitos de viver naturalmente roubados, pois são impedidos de satisfazer necessidades básicas como a caça, pastoreio e o desenvolvimento de estruturas sociais importantes. O próprio ato da captura muitas vezes acaba dizimando uma população inteira daquela espécie, para capturar apenas um ou dois indivíduos.

Não existe qualquer chance de se recriar o habitat natural do animal em cativeiro, muitos usam desse argumento para mascarar as condições extremas em que os animais vivem; flamingos em climas frios, ursos polares no hemisfério sul, baleias em piscinas…

Os animais são incapazes de prosperar em pequenos recintos, especialmente em climas não naturais. Por exemplo, os elefantes costumam caminhar até 50km em apenas um dia, mas Lucy, o elefante solitário do Zoológico de Edmonton, fica trancada dentro de um celeiro quando o zoológico fecha no inverno, o que significa que ela gasta a maior parte do tempo dentro deste celeiro, sem muito espaço para se mover. O confinamento quase constante por causa do clima severo levou Lucy a desenvolver artrite. Este é só um exemplo… Praticamente todos os animais desenvolveram ou vão desenvolver algum tipo de dano físico quando confinados por anos em espaços muito menores que seus habitats.  

 

 

Como os animais em cativeiro são privados de tudo o que é natural e importante para eles, muitos sofrem também de uma condição psicológica chamada “Zoochosis”. Se você já viu um animal no zoológico com movimentos repetitivos, macacos que ficam batendo pedras sem parar, quadrúpedes balançando a cabeça de um lado para o outro, felinos andando em círculos; então você já presenciou a doença. Esta condição é tão desenfreada nos zoológicos que a maioria deles dão aos animais uma droga que altera o humor, como o Prozac, porque o público começou a perceber e reportar esses comportamentos que é desconfortável também para quem assiste.

Alguns animais chegam a extremos e acabam arriscando suas próprias vidas em tentativas desesperadas de libertarem-se. No Zoológico de Dallas, um gorila chamado Jabari tentou escapar saltando sobre as paredes e os muros de seu confinamento e foi atingido fatalmente pela polícia. Uma testemunha mais tarde confessou que adolescentes estavam provocando-o, jogando pedras nele.

 

 

Na realidade, ao visitar um zoológico, a maioria das pessoas gasta apenas alguns minutos em cada jaula, esperando que os animais façam algo “excitante”, mas têm pouca (se alguma) compreensão do que são estes animais. Além disso, os animais cativos não conseguem escolher seus companheiros, e são artificialmente inseminados para que seus bebês possam ser vendidos ou comercializados para outros jardins zoológicos. Isso geralmente resulta em abortos espontâneos, morte ao nascer ou rejeição da mãe aos filhotes. O governo chinês por exemplo, “aluga” pandas para zoológicos em todo o mundo por taxas de mais de 1 milhão de dólares por ano.

Em vez de ir ao zoológico, você pode aprender sobre animais assistindo documentários ou observando os animais em seus próprios habitats naturais. Já fui em alguns zoológicos pelo mundo e hoje, como conheço a realidade por trás destes locais, não vou mais e incentivo meus amigos e familiares a boicotá-los também. Adoro animais, e é inaceitável que o meu entretenimento seja a razão do sofrimento deles.

 

 

Infelizmente algumas memórias da minha infância incluem passeios ao circo, em ver leões e outros felinos grandes sendo chicoteados por treinadores que eram ovacionados por uma plateia ignorante e no fim do “espetáculo” ir dar uma voltinha no estacionamento do circo e ver os pobres animais em gaiolas com rodas e outros acorrentados em espaços mínimos.  Lembro de um elefante que balançava a cabeça incessantemente e na minha ingenuidade infantil, acreditei que ele estava apenas “dançando”. As gerações posteriores à minha não viram e nunca verão esse tipo de circo, graças à consciência maior que adquirimos em relação aos animais. O próximo passo é a conscientização em relação aos zoológicos. Se não retrocedermos moral e mentalmente, a tendência é que zoológicos fiquem cada vez mais escassos, e que num futuro próximo não haja público disposto a pagar por este tipo de entretenimento cruel e desnecessário.

 

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 é co-proprietária do eco4planet. Tradutora e professora, apaixonada por ciência, cachorros, culinária e decoração sustentável. Excessivamente curiosa e sonha em um dia plantar tudo o que consome.
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