No verão de 2012, cientistas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo receberam alguns exemplares vivos de caracóis coletados num fragmento de Mata Atlântica próximo ao município de Nanuque, no leste do estado de Minas Gerais. A exuberante coloração das conchas dos animais chamou a atenção dos pesquisadores Luiz Simone e Rodrigo Salvador, que não muito depois confirmaram se tratar de uma nova espécie.
O trabalho de descrição minuciosa, publicado este mês (abril/2016) no periódico científico Alemão “Stuttgarter Beiträge zur Naturkunde”, levou quatro anos da elaboração à prensa. Nesse meio tempo, o doador dos espécimes originais retornou ao local da coleta, apenas para encontra-lo completamente destruído: o fragmento de mata nativa deu lugar a uma plantação de tomates. A notícia foi recebida com grande pesar pelos pesquisadores. A espécie, que ainda não havia recebido sua descrição formal (e sequer um nome, portanto), poderia já estar extinta.
A rápida extinção de caracóis ao redor do mundo é fato reconhecido e comentado no meio científico. Lesmas e caracóis são moluscos terrestres comuns e muito familiares e, no entanto, figuram entre os animais mais ameaçados do planeta. Felizmente, esse não foi o caso de “Leiostracus carnavalescus”, que recebeu esse nome em alusão à sua concha colorida. Espécimes adicionais vindos do estado do Espírito Santo foram encontrados pouco depois, dissipando a suspeita inicial de extinção da espécie. Isto é, ao menos por hora!
Situações como essa nos alertam para a fragilidade e o parco conhecimento que temos desses animais. Ainda que o caracol carnavalesco aparentemente tenha sobrevivido à degradação de parte de seu habitat natural, muitas outras espécies desapareceram e desaparecerão antes que a humanidade tenha tido a oportunidade de estuda-las e conhecer sua beleza. Infelizmente, a velocidade com que empregamos recursos financeiros e humanos para descrever e entender espécies e ecossistemas não acompanha as taxas de extinção impulsionadas por nossos ímpetos destrutivos.