Um estudo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) constatou que o açaí, fruto de cor arroxeada nativo da Amazônia, tem propriedades que vão muito além de seu sabor exótico, amplamente associado ao preparo de sucos, sorvetes, geleias e doces.

A partir da fibra obtida durante o processo de limpeza do caroço, os pesquisadores conseguiram fabricar um papel de qualidade com cores e texturas variadas que pode ser usado para diversos fins.

Além de aproveitar resíduos que acabam indo para o lixo, a iniciativa busca transferir conhecimento às pessoas que trabalham com a produção do fruto, proporcionando a elas novas oportunidades de negócios.

De acordo com a responsável pelo Laboratório de Celulose e Papel do Inpa, Marcela Amazonas, o papel é produzido a partir dos pelos do açaí(1) descartados pela indústria amazonense e por cooperativas que extraem o óleo da fruta. “Duas grandes cooperativas do estado, por exemplo, chegam a jogar fora mais de 20t de resíduos por mês”, informa, lembrando que o consumo da fruta no estado é elevadíssimo. Segundo ela, o caroço da fruta já é utilizada por artesãos para a fabricação de colares, brincos e outros objetos. Com a produção do papel, criou-se também uma utilidade para as fibras.

O laboratório costuma receber o caroço inteiro (ainda não limpo) ou o próprio pelo do açaí já separado, enviados por cooperativas que já conhecem o trabalho do instituto. Segundo Marcela, a produção não é complexa nem utiliza aditivos químicos. “Desenvolvemos um produto simples, pois sabemos que o projeto poderá ser adotado por comunidades que têm pouca infraestrutura à disposição”, destaca.

O processo de produção começa com a mistura das fibras com água. Batida, a mistura vira uma pasta, denominada celulose. Essa massa segue, então, para uma máquina conhecida como formadora de papel, que vai sugar toda a água e dar forma à folha (veja arte). “Também testamos a produção artesanal, com o auxílio de telas, e o mecanismo também funcionou”, afirma.

Impressão, produção de embalagens ou papelão. São inúmeras as opções de uso do papel produzido pelo Inpa. Marcela diz que o material também passa por uma bateria de análises que irão comprovar sua qualidade. A cor também varia de acordo com a finalidade. “Ao contrário do que muitos pensam, o processo também pode originar o papel branco, semelhante ao convencional”, diz.

A aceitação do produto é tão grande que arquitetos da região estão procurando o Inpa para utilizá-lo na decoração de interiores. “O papel tem uma textura semelhante ao mármore e ao granito, por isso chama bastante a atenção. Há designers e gráficas que também estão se mostrando interessados em adquiri-lo para a aplicação em capas de livros”, revela a pesquisadora.

Flores
Assim como o pelo do açaí, outros materiais podem ser utilizados na fabricação de papel artesanal. A cooperativa Mulheres de Fibra, de Nova Olímpia (MT), a 198km de Cuiabá, por exemplo, dedica-se à produção de flores artificiais a partir do papel produzido com o bagaço de cana-de-açúcar. Para dar forma a lírios, margaridas e bromélias, a entidade conta com o trabalho de 20 mulheres. “O bagaço é cozido, alvejado, lavado, tingido e passado na peneira. Depois ele seca ao sol, é prensado e cortado nos modelos das flores”, explica Maria Helena Alves, presidenta da cooperativa, fundada em 2002.

O sucesso é tão grande que as flores são exportadas para diversos países, entre eles os Estados Unidos e o Canadá. “No Brasil, quase todos os estados também compram as nossas flores”, completa Maria Helena. Para ela, além de uma nova perspectiva de vida para as pessoas envolvidas, o trabalho contribui para a redução de resíduos no planeta. “Acredito que seja uma ação conjunta. Se cada um fizer um pouco, a situação do lixo no planeta com certeza melhorará”, destaca.

O Departamento de Artes da Universidade de Brasília (UnB) também mantém projetos semelhantes, voltados para o uso de resíduos que antes iriam se acumular nos aterros sanitários. Um deles utiliza bitucas de cigarro para a produção de papel. “O material recolhido é processado quimicamente. O filtro de cigarro que iria para o lixo vira celulose”, explica a professora Therése Hofmann, doutora em desenvolvimento sustentável. Outra iniciativa da universidade utiliza o dinheiro descartado pelo Banco Central todos os meses, cerca de 10 toneladas. “Com isso, fazemos capa de agendas, cadernos, folders e pastas para congressos”, revela.

1- Usos variados
Também conhecido como juçara, o açaí cresce em cachos de uma palmeira chamada açaizeiro. A espécie é nativa da Amazônia. A polpa é muito usada na culinária e pode ser consumida das mais diversas formas: suco, geleia e sorvete. Além disso, a fruta também é apontada como uma fonte de proteínas, fibras, lipídios, fósforo, ferro e cálcio.

#PdL indica que este é um Post do Leitor, escrito por pessoas como você, que curtem o eco4planet, a sustentabilidade e o meio ambiente. Para se tornar um colaborador é simples: mande uma mensagem e enviaremos mais detalhes.

Fonte: Correio Braziliense

 Sou poeira das estrelas combinada de forma sábia - Sou energia em massa finita - Sou etéreo em cosmo infinito - Sou fogo, sou luz! - Sou pensamento, sou vida! - Sou a holística da ciência, do sentimento e do espírito! Sou indefinível!
Veja outros artigos por e escreva também para o eco4planet!
             
Quem somos
Na mídia
Contato
Anuncie (mediakit)
Como divulgar
 
 
©2008-2024 eco4planet | Privacidade
©2008-2024 eco4planet | Privacidade