A curiosidade na apresentação do AirPod, em novembro, em Lausanne.

A partir da próxima primavera europeia, os pequenos carros da empresa francesa MDI serão produzidos também na Suíça.

O chamado AirPod funciona a ar comprimido, não polui, é barato e tem a ambição de mudar a maneira de conceber o automóvel.

Depois do Salão do Automóvel de Genebra, em março, o AirPod esteve na Escola Politécnica de Lausanne (EPFL) em novembro, quando foi assinado um acordo de parceria de pesquisa, visando melhorar os sistemas de abastecimento dos tanques de ar.

O carro parece um ovo colorido, com janelas redondas, mas não é a forma que torna o veículo de três lugares revolucionário e sim seu modo de propulsão, unicamente a ar comprimido e sem nenhuma emissão de poluentes. A ideia não caiu do céu pois a tecnologia existe há dois séculos.

Guy Nègre, fundador da MDI, passou quase meio século construindo motores para a Fórmula 1, para a aviação e para a célebre Renault 8 Gordini.

Os modelos:

AIRPod. Ar comprimido unicamente. Uma espécie de ovo com janelas redondas, de três lugares, 220 kg, autonomia de 200 km, velocidade máxima 70 km/h, preço de aproximadamente 9 mil francos suíços, cerca de 15 mil reais.

OneFlowAIR. Bienergia, ar comprimido e carburante. Várias versões, de três a cinco lugares, 320 kg, autonomia de 800 km, velocidade máxima de 130 km/h, preço de aproximadamente 12 mil francos suíços,  cerca de 20 mil reais.

Potencial mundial
No final dos anos de 1990, ele começou a se interessar pelo motor a ar, que propôs aos grandes construtores em 2003 e 2004, especialmente aos franceses.

Ninguém quis, mas os indianos levam a ideia a sério. Durante mais de dois anos, os engenheiros do grupo Tata vieram ao ateliê de Guy Nègre em Nice, sul da França, para avaliar, testar e observar a tecnologia e seu potencial de desenvolvimento.

Em 2007, o grupo sediado em Mumbai (líder do mercado indiano, mas também um dos maiores fabricantes mundiais de caminhões e ônibus), comprou uma licença dos motores da MDI para fabricá-los na Índia. Valor do contrato: 10 milhões de euros.

Depois disso, cerca de 50 outras licenças foram vendidas pela MDI. Um delas foi comprada pelo advogado suíço Henri-Philippe Sambuc, fundador da Catecar, que vai fabricar os veículos a ar comprimido na Suíça.

“Artesanato industrial”
“Não é somente a técnica que é revolucionária nesse carro. O plano de negócios também”, explica Sambuc. “A filosofia é produzir o que é vendido, perto do consumidor. Nada de estoque, nada de concessionárias e sem logística. É uma espécie de artesanato industrial.”

Portanto, não haverá uma grande fábrica MDI e sim um grande número de pequenas montadoras espalhadas pelo mundo, que fabricarão 80% do veículo (o restante das peças será produzido em outras fábricas), atendendo as encomendas. Os carros serão vendidos nas fábricas, economizando custos e a poluição ligada ao transporte.

Como anuncia o site do construtor francês, todos podem ser concessionário/fabricante/associado e abrir uma fábrica MDI. Para isso, uma fábrica exigirá – para a mesma produção – apenas um quarto de uma fábrica de carros clássica, um quinto do investimento, mas 30% a mais de empregados.

Abastecer a ar
Mas como abastecer com ar comprimido? A MDI fornecerá com o carro um minicompressor que permitirá encher o tanque durante a noite. Mas isso não basta.

Serão necessários pontos de abastecimento. Na Suíça, a Catecar propõe firmar um contrato com 200 oficinas como primeira rede de abastecimento. Cada oficina investirá 30 mil francos (cerca de 50 mil reais) em um grande compressor, o que permitirá abastecer em três minutos por 6 a 8 francos (algo como 10 a 13 reais).

Para Henri-Philippe Sambuc, encontrar 200 oficinas será “muito fácil”, é só se concentrar nas oficinas independentes.

Um pouquinho de gasolina
Para quem não quiser reabastecer a cada 150 a 200 km (autonomia prevista com um tanque de ar comprimido), a MDI já desenvolve um carro um pouco maior, que, utilizando um pouco de gasolina (2 litros por 100 km), pode comprimir o ar ambiente ao mesmo tempo em que roda.

Mas não se trata de um motor a pistão e sim de uma simples câmara de combustão que aquece o ar usando gasolina, gás ou qualquer outro combustível que queima quase integralmente, enquanto um motor a explosão queima apenas um quinto.

O sistema quase não produz óxido de azoto nem fumaça, apenas um pouco de CO2, e promete uma autonomia de 800 km.

Boillat, o renascimento
No caso da Suíça, é uma boa notícia para a fábrica abandonada do grupo Swissmetal, no cantão de Berna, onde ocorreu em 2006, uma das greves mais longas dos últimos anos no país.

É ali que a Catecar vai instalar a linha de montagem do AirPod, na primavera europeia de 2010. “Ainda faltam 15 milhões de francos (25 milhões de reais) e tento convencer alguns investidores”, diz Henri-Philippe Sambuc, confiante que vai encontrá-los.

Quando a fábrica funcionar a pleno vapor, deverá empregar 120 pessoas e produzir – essencialmente com a ajuda de robôs – três a quatro veículos por hora (contra um por minuto em uma montadora clássica).

Na Catecar, reina otimismo. O mercado potencial é enorme: esses pequenos carros, para o uso essencialmente urbano, deverão ter grande demanda, sobretudo devido o preço: 9 mil francos, cerca de 15 mil reais.

A demanda não deverá ser apenas de particulares. “Pense que 2.500 empresas na Suíça têm um abono do sistema de locação Mobility”, lembra Sambuc. Ele acredita que as prefeituras e outros órgãos públicos podem se interessar pelos novos veículos.

A primeira fábrica da MDI na França já recebeu 40 mil encomendas, antes de começar a funcionar. “Eles não conseguirão atender a demanda, nós é que vamos produzir”, afirma o dono da Catecar.

Fonte: Marc-André Miserez em swissinfo.ch com adaptação de Claudinê Gonçalves

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 é o criador do eco4planet, formado em Administração de Empresas pela USP, desenvolvedor e gamer. Otimista nato, calmo por natureza, acredita que informação pode mudar o mundo e que todo pequeno gesto vale a pena. Posta também no Twitter e Facebook.
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