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Foto: Rodrigo Yoshioka

Nos últimos três anos a cidade de São Paulo perdeu exatamente 2.692 casas. As construções, muitas delas antigas e carregadas de história, deram lugar a grandes prédios, espigões e condomínios residenciais e comerciais.

O cenário representa um fenômeno crescente nas grandes metrópoles – o boom do mercado imobiliário que cresce quase 80% ao ano e abre espaço a força para seus grandes empreendimentos.

Os dados são de um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo e publicado no último domingo, 24 de outubro. Eles revelam ainda que 2,5 imóveis são demolidos, em média, a cada dia na maior cidade do Brasil. Em seu lugar, 600 prédios novos surgem todos os anos.

Segundo a publicação, a pesquisa foi feita com base em todos os deferimentos de alvarás de execução de demolição publicados no Diário Oficial da Cidade de São Paulo de 1º de janeiro de 2008 até 20 de outubro de 2010. Somente este ano 664 imóveis foram transformados em poeira e entulhos. No ano passado, foram 933, e em 2008, 1.095.

Com uma conta simples é possível revelar uma estatística espantosa: uma casa foi destruída a cada 10 horas para ser substituída por grandes empreendimentos imobiliários. Os locais que mais sofreram com o boom foram bairros nobres, carentes de espaços livres para novas construções.

Impactos

Outrora ocupados por casas e pequenos prédios, locais como Vila Mariana, Ipiranga e Vila Olímpia, na zona sul; Pinheiros e Pompeia, na zona oeste; Tucuruvi, na zona norte; e Mooca e Vila Prudente, na zona leste, hoje convivem com as novas edificações – e as consequências trazidas com elas.

Segundo o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, Pedro Paulo Palazzo, o aumento descontrolado da densidade de um bairro pode agravar problemas como engarrafamentos, disponibilidade de água e saneamento básico.

Para evitar esses problemas, Palazzo defende que os responsáveis pelas obras considerem seriamente a estrutura disponível na região antes de iniciar as obra. “Às vezes uma rua foi projetada para algumas casinhas e agora tem 500 apartamentos. E os custos disso não serão pagos pelo empreendedor, e sim por contribuintes que nunca irão morar naquele empreendimento”, alerta.

Cidade de ninguém

Outra questão citada pelo especialista é a perda cultural, social e histórica da região afetada pelo boom. Palazzo lembra que com a derrubada das casas, os antigos moradores acabam sendo deslocados para outros bairros, desagregando-se da sua comunidade e perdendo suas referencias sociais.

“Tem-se uma nova paisagem social, quem chega ali não se conhece, trabalham em regiões diferentes e tem que esperar décadas por novas consolidações de sociedade”, afirma.

Densidade equilibrada

Ainda assim, há quem defenda a substituição das casas pelas moradias verticais. É o caso do engenheiro civil Dilnei Bittencourt. Para ele, a solução para o problema das habitações nas cidades passa fatalmente pela construção de prédios.

Para Bittencourt, que também é diretor de engenharia do Projeto Pedra Branca, se todos os seres humanos morassem em casa isoladas a humanidade precisaria de quase três planetas para suportar todas as moradias – o que torna a opção inviável.

A solução, segundo ele, está no equilíbrio da densidade populacional em cada região. “A superdensidade passa do ponto e causa problemas, enquanto que a baixa densidade também não é sustentável, já que os serviços públicos daquela região se tornam muito caros ou de péssima qualidade. O ideal é o meio do caminho”, diz.

Apesar de depender de uma série de fatores, Bittencourt informa que a densidade ideal deve variar entre 500 e 800 habitantes por hectare. [EcoD]

             
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