Recuperação de córrego coreano serve como modelo para cidades de todo o mundo
Revitalizado, córrego coreano serve de modelo para cidades de todo o mundo/Foto: kenchanayo

Imagine só se um projeto revolucionário de sustentabilidade pudesse revitalizar completamente os rios Pinheiros e Tietê, em São Paulo, no período de dois anos e três meses. Impossível? Longe disso. Saiba que esse tempo foi suficiente para a recuperação ambiental, social e visual do córrego Cheong Gye Cheon, de 13 quilômetros de extensão, situado na cidade de Seul, capital da Coréia do Sul.

Atualmente, a metrópole coreana formada por cerca de dez milhões de habitantes orgulha-se de ter no córrego um novo cartão postal, até porque esse mesmo rio era um perigoso foco de doenças e ponto de estímulo à criminalidade até o final dos anos 1990. A bem-sucedida recuperação do canal foi fundamental para que o idealizador da iniciativa, Lee Myung-Bak, chegasse a prefeitura de Seul e, em dezembro de 2008, a presidência da Coréia do Sul.

Na década de 1950, situação do córrego de Soul era de abandono e poluição
O córrego, em 1950: deteriorado, abandonado e poluído/Foto: parhessiastes

Mas como foi executada a transformação do córrego coreano? Até o início do século 20, o Cheong Gye Cheon apresentava um retrato muito parecido com o dos principais rios que cortam São Paulo: moradias precárias no entorno, esgoto a céu aberto e muita poluição. Só para se ter ideia, os governantes locais chegaram a fechar totalmente o canal nos anos 1950, devido o agravamento da situação – decisão já cogitada por alguns políticos paulistanos.

Revolução verde

Quatro décadas depois, além da grande avenida por toda a extensão, foram construídas quatro pistas em um elevado de concreto. O resultado foi o estímulo ao transporte individual, já que o sistema viário permitia a circulação de 700 mil carros por dia, e ao comércio local. Cerca de 100 mil lojas e 200 mil trabalhadores viviam às margens da avenida.

Em 2002, Lee Myung-Bak, então candidato à prefeitura de Seul lançou seu projeto de recuperação do córrego como principal bandeira eleitoral. Ao ser eleito, já em 2003, o tráfego de 5,4 km da avenida que fica sobre o rio foi interrompido, e o elevado começou a ser demolido. Foi utilizada tecnologia de ponta para que a demolição ocorresse sem ruídos ou poeira e todo o asfalto retirado foi reaproveitado. Durante o processo, foi feito um concurso de design de pontes e foram sendo plantadas flores silvestres durante toda a extensão.

Cartão postal: depois de revitalizado, o córrego coreano virou orgulho de Seul
Cartão postal de Seul, córrego revitalizado virou orgulho dos coreanos/Foto: Justin Adams

Em junho de 2005, a água foi novamente injetada no córrego e, em outubro do mesmo ano – com nenhum dia de atraso no cronograma previsto – foi inaugurado o novo córrego Cheong Gye Cheon. Do começo ao fim, o projeto custou US$ 380 milhões. E os resultados impressionam:

• Redução da temperatura de 3,6 graus na área;
• Queda de 38% nas emissões de poluentes;
• Valorização dos imóveis no entorno e um aumento de 4 para 25 espécies de peixes e de 6 para 36 espécies de aves;
• Aumento de 9,6% no uso do ônibus e em 2,4% o do metrô.

“Foi uma grande mudança de paradigma na gestão da cidade. Os focos passaram a ser a qualidade de vida, a segurança, a sustentabilidade. Além disso, a volta do córrego seria também a valorização do centro e a redescoberta das nossas raízes”, afirmou ao site do Movimento Nossa São Paulo, In-Keun Lee, diretor-geral do projeto de recuperação do córrego Cheong Gye Cheon, em visita recente a capital paulista.

Modelo

O modelo sustentável capaz de ter promovido o renascimento do córrego em Seul inspirou a criação do projeto Rios de São Paulo, que, entre outras ações, realizou um seminário na terça-feira, 14 de abril, no anfiteatro da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). A iniciativa foi da Rede Globo, por meio do projeto Globo Universidade.

Modelo do córrego de Seul deve inspirar a famigerada Marginal Tietê
Marginal Tietê pode ser inspirada pelo exemplo de Seul/Foto: Andre Keji

Participaram da discussão os professores Carlos Eduardo Morelli Tucci, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), e Mario Thadeu Leme de Barros, da USP, e Dima Pena, secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, além de Carlos Tramontina, jornalista que serviu de mediador do debate. Selecionamos para você, trechos das apresentações de dois palestrantes do evento:

Dima Pena: “Não dá para pensar em resultados visíveis em menos de 5 ou 10 anos” – quando perguntada sobre a chance de São Paulo seguir o exemplo do córrego de Seul.

Carlos Tucci: As cidades brasileiras hoje estão na UTI da gestão! Tudo é muito desintegrado, fragmentado. Em São Paulo, o desenvolvimento irregular na periferia provocou forte impacto nas áreas de mananciais. E, para piorar, nossa engenharia de drenagem é anterior ao que se fazia nos anos 1970. Estamos muito atrasados”.

*Com informações do Movimento Nossa São Paulo, retirado de EcoDesenvolvimento.

             
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