No último Salão do Automóvel de São Paulo, em 2012, a Renault investiu pesado no tema sustentabilidade. Seu estande era completamente voltado a esse viés: os brindes eram calculadoras ecológicas, shows eram feitos com a temática e, claro, a gama internacional elétrica da montadora estava presente em massa. Na edição de 2014 do evento, a tendência geral parece ser outra, com um processo de “normalização” do tema. O que antes merecia um show à parte (literalmente), agora parece ser tratado como um dos pilares de boa parte das montadoras, mas de forma natural e integrada a outros princípios.
Isso se refletiu nos modelos “verdes”, agora muito mais próximos de carros comuns do que de conceitos futurísticos, um reflexo da conscientização dos consumidores, das montadoras e até mesmo da crise internacional da última década. É claro que a visão futurística do carro super-sustentável ainda continua de pé, mas a porção dos carros verdes “realistas” fizeram diminuir consideravelmente a escala dos carros que parecem ter saído de um filme de ficção científica (os carros conceitos serão abordados em outro post)
Além dos modelos já conhecidos como o Ford Fusion Hybrid, estão na lista das “novidades realistas” o Fiat 500e (imagem acima), Kia Soul EV, Renault Zoe (foto abaixo) e Smart fortwo electric drive. Além de serem compactos, ocupando menos espaço nas ruas e consequentemente criando menos trânsito, possuem em comum o fato de estarem na mostra apenas por estarem, ou seja, não têm previsão de lançamento no Brasil (a exceção do Kia Soul), por conta do alto preço, falta de incentivos do governo e de infraestrutura (o que também afasta a tendência internacional dos híbridos plug-in, que vão diretamente na tomada).
Ainda assim, eles são tão reais a ponto de ser possível entrar nos modelos, abrir o capô, verificar como ficou o porta-malas e conhecer como funcionam seus sistemas elétricos. Antigamente, ficariam cercados por vidros e não teriam contato direto com o público. Para os desavisados, o 500e, por exemplo, nem seria tido como um carro elétrico, mas sim mais uma das diversas variantes do modelo.
É bom lembrar que estamos no Brasil, um país fortemente atrasado na regulamentação de carros híbridos e elétricos. Então, essa mudança de rumo das montadoras é ainda mais surpreendente de se ver. Já contamos com alguns veículos híbridos, é verdade, mas o alto preço deles os restringem.
Talvez o mais “popular” dessa linhagem seja mesmo o Fusion Hybrid (do qual já falamos aqui), que no Salão ganhou mais uma novidade: cintos traseiros infláveis. A Ford se diz contente com o desempenho do carro, que está próximo de chegar às 1000 unidades comercializadas. Perguntei à Gerente de Produto do modelo se há interesse em trazer outros veículos híbridos da marca vendidos no exterior, como o monovolume C-Max. A resposta é que a Ford está preocupada com a questão da eletrificação, mas por enquanto vai ficar apenas com o Fusion Hybrid em território brasileiro.
Vale citar que a Kia também mostrou o Optima Hybrid, que poderia servir de rival para o Fusion em um futuro próximo. A marca fez um apelo por incentivos do governo para trazer seus modelos verdes, assim como a Porsche.
Um lançamento híbrido que aconteceu no Salão foi o do Audi A3 Sportback e-Tron, que deve chegar no segundo semestre do ano que vem, com dois motores: um a combustão, 1.4 de 150 cv e 25,5 kgfm de torque, e outro elétrico, com baterias de lítio, 102 cv e 33,6 kgfm de torque. No total, são 204 cv, autonomia de 940 km e até 66 km/l de consumo. A BMW também mostra a sua linha i, que chegou ao Brasil em setembro. Custando a partir de R$ 225.050,00, o i3 também utiliza íons de lítio, combinados com um motor a combustão. A autonomia fica entre 130 km e 160 km, já que existem dois modos de condução que aumentam em até 20 km a autonomia. Maior e mais esportivo, o i8 também será comercializado, mas apenas sob encomenda, pelo preço de R$ 799.950,00. Já a Porsche mostrou o 918 Spyder e o Panamera, ambos também com versões híbridas.
Paralelo à “normalização”, até mesmo pelo fato de o país não contar com benefícios gonvernamentais que já são tradicionais para esses tipos de carros em países como EUA e França, é possível encontrar modelos ainda mais tradicionais que prezam pela eficiência de combustível (e consequente menor emissão de poluentes). Eles não chegam a ser híbridos ou elétricos, até porque não seria vantajoso para as montadoras adotar soluções como essas no mercado brasileiro, mas ainda assim contam com certo apelo ecológico. É o caso do Volkswagen Fox BlueMotion, que utiliza artimanhas como grade diferenciada, saias e redução de peso para melhorar a aerodinâmica, além de pneus verdes e alterações na suspensão. Dessa forma, ele rende 12,7 km/l na cidade e 14,7 km/l na estrada (com gasolina). Outro grande exemplo é o Ford Ka, que tanto com o motor 1.0 quanto com o motor 1.5 (lançado no hatch agora no Salão) obteve nota A de eficiência energética no ranking do Inmetro. rendendo até 13,1 km/l na cidade e 15,1 km/l na estrada (com gasolina).
Falando de um pré-lançamento, que chega ao Brasil em março do ano que vem, é possível citar um Jeep (quem diria). A grande aposta da marca, o Renegade, será disponibilizado em três versões, e o motor 2.0 MultiJet poderá equipar todas elas. O maior diferencial é o fato de ser um motor a diesel, até então inexistente no segmento de SUVs compactos no Brasil, o que garante impressionantes 950 km de autonomia com um único tanque – o que segundo o diretor das marcas Chrysler para a América do Sul, é suficiente para ficar 2 semanas sem abastecer o carro, ou ir e voltar de São Paulo até o Rio de Janeiro e ainda passear pelas cidades.
O eco4planet visitou o Salão do Automóvel a convite da Ford, e descobriu que ficar sentado de frente para o Novo Mustang 2015 pode ser hipnotizante.