Nos sete anos que supervisionou cada raiz e folha de grama do Clube de Golfe Merion de Ardmore, na Pensilvânia, Estados Unidos, Matt Shaffer construiu uma reputação em inovação e conservação. Um dos primeiros defensores da jogabilidade do campo em favor da estética, ele viveu durante muito tempo pela máxima “quanto mais seco, melhor”.

Mas quando uma sufocante onda de calor ameaçou o verde do campo antes do U.S. Amateur Championship (Campeonato Amador dos EUA) de 2005 – o 17º campeonato da USGA (Associação de Golfe dos Estados Unidos) em Merion, um recorde -, Shaffer recorreu a seu antigo chefe, Paul R. Latshaw Senior, para pedir conselhos. Latshaw contou que havia uma maneira de continuar a cortar o uso de água, mantendo ao mesmo tempo a grama seca e tão rápida quanto uma microonda: sensores.

Sensores sem fio eram pouco mais do que um rumor naquela época, mas Shaffer confiou em Latshaw, seguiu o conselho e instalou um produto chamado RZ Wireless antes do campeonato. A tecnologia o ajudou a desfrutar de quatro anos de sucesso na conservação da água. Embora em dúvida quanto à possibilidade de melhorar o que ele já tinha, Shaffer decidiu, no mês passado, mudar para um sistema que oferecia economias ainda maiores.

“Provavelmente sou conhecido como um dos melhores regadores”, disse Shaffer, diretor de operações de golfe do clube, em uma entrevista recente. “E eu pensei: cara, eu nem sei por que estou comprando esses sensores, porque eu sei que estou seco”. Ele adicionou: “Bem, o que eu pensei que era seco não é nem minha base. Esses sensores simplesmente são tão mais sensíveis, tão melhores, tão mais completos. Agora estou convencido. Sou um viciado em sensores”.

Trata-se de um vício ecológico com potencial para se espalhar, com mais de 20 estados afetados por alguma forma de seca e com as restrições de água sendo uma realidade diária em cidades por todos os EUA. Pelo menos três empresas competem no mercado de sensores sem fio subterrâneos, que monitoram umidade, temperatura e salinidade no solo e armazenam as informações em uma rede de software acessada de forma remota em um laptop, aparelho portátil ou computador de mesa. O sistema poderia ser usado para muito além do campo de golfe – em outros campos esportivos, na agricultura, no paisagismo residencial e comercial e em parques.

O líder na sede do clube, por enquanto, é um sistema chamado UgMo, uma rede de sensores sem fio que extrai informação do subsolo e envia para um pacote de software desenvolvido pela Advanced Sensor Technology, de King of Prussia, Pensilvânia, os fabricantes originais do sistema RZ. A empresa anunciou seu sistema atualizado em fevereiro, e o disponibilizou em abril, instalando-o em mecas do golfe, como o Merion, o Desert Mountain, nos arredores de Scottsdale, Arizona, e o Card Sound Golf Club, em Key Largo, Flórida.

Os primeiros usuários dizem que vão reduzir em média 10% de sua utilização de água habitual, chegando a milhões de litros de água por ano. Nessa velocidade, o sistema se pagaria no primeiro ano, dependendo do volume de água usado por um campo.

“No início, já éramos uma operação muito eficiente”, disse Shawn Emerson, superintendente do clube de golfe Desert Mountain, um complexo de seis campos com cerca de 200 hectares de grama, no deserto sudoeste. “Com esses sensores, só molhamos quando o solo nos diz que precisa ser molhado”.

Ele diz que o clube economizaria quase 400 milhões de litros de água residual, ou uma média de 68 a 75 milhões de litros por campo durante o ano. Isso significaria aproximadamente US$ 130 mil em economia, com base nos preços atuais. Os concorrentes da Advanced Sensor incluem o gigante da indústria Toro, de Bloomington, Minnessota, e a Environmental Sensors, Inc., sediada em Victoria, British Columbia. Cada uma introduziu sistemas sem fio projetados para campos de golfe nos últimos quatro meses.

A competição, previsivelmente, tem semeado processos. A Advanced Sensor entrou com um processo de quebra de patente contra a Toro, em janeiro de 2008. O caso, que envolve o movimento de um antigo projetor de sistemas sem fio da Advanced Sensor, está agendado para ir a julgamento em 30 de julho, em um tribunal federal da Filadélfia, salvo em caso de acordo.

Walter Norley, fundador e chefe-executivo da Advanced Sensor, disse que sua companhia estava bem posicionada para crescer e tinha começado a fazer progresso no mercado de campos de grama. Ele apontou a instalação recente do sistema UgMo, de sua empresa, no Home Depot Center, em Carson, Califórnia, um complexo de campos esportivos que é sede do Los Angeles Galaxy e do Chivas USA, da Major League Soccer (liga americana de futebol).

Ele também mencionou a legislação que aguarda aprovação na Flórida – que semana passada declarou uma emergência devido à seca -, que obrigaria a adoção de medidas de conservação de água por irrigadores, o que poderia abastecer sua empresa com um grande número de clientes. “A realidade é que a situação da água, em si mesma, é muito significativa”, afirmou Norley.

“Existe legislação de uso em um grande número de estados, e quando isso se tornar obrigatório, o mundo do golfe será o alvo mais fácil entre todas as aplicações de irrigação. Se as decisões forem baseadas em quem terá água, lavouras para comida ou os campos verdes de alguém, é bastante óbvio quem conseguirá a água.”

O golfe responde por 0,5% do uso anual de água nos EUA, segundo estudo lançado neste ano pela Associação de Superintendentes de Campos de Golfe da América. Campos de golfe são praticamente desconectados do sistema municipal de água fresca, com 86% deles usando alguma outra fonte, como água residual reciclada, água de superfície ou água tratada por osmose reversa. De forma significativa, 70% dos superintendentes entrevistados disseram estar mantendo sua grama mais seca.

Mas menos de 100, entre os estimados 15,7 mil campos de golfe dos EUA, têm sensores instalados. A introdução de sistemas relativamente baratos e de alta precisão poderia mudar isso. Por pouco menos de US$ 11 mil, um campo de golfe poderia instalar um sistema UgMo subterrâneo que incluiria 18 sensores sem fios, três roteadores e portas de comunicação, software e a ajuda de uma equipe de assistência agronômica.

Norley diz que sua companhia terá 48 instalações completas até o fim de junho, com 14 mil sensores pré-encomendados para instalação em campos esportivos e de golfe até o fim do ano. A Toro, com a maior parte de sua receita de 2008, de US$ 1,9 bilhão, gerada por equipamentos de paisagismo e sistemas de irrigação, está apenas começando. A Enviromental Sensors anunciou sua entrada no mercado de software e sensores sem fio para golfe no começo deste mês.

Em Florida Keys, o clube de golfe Card Sound instalou sensores sem fio em abril. O clube usa água reciclada por osmose reversa para irrigar suas terras. A água tem alto conteúdo de sal, o que significa que o superintendente do clube, Sean Anderson, precisa regularmente fazer com que seu campo seja lavado com água fresca. Antes da instalação, disse Anderson, a tarefa requeria mais de 500 mil litros de água, levava uma hora e precisava ser feita a cada duas semanas.

“Na verdade, nós cortamos pela metade a quantidade de água que estávamos usando”, diz ele. “Para mim, isso meio que mostra que o céu é o limite com essa tecnologia.”

Tradução: Amy Traduções

Via Terra via The New York Times. Foto via Lago Azul Golf Clube

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 é o criador do eco4planet, formado em Administração de Empresas pela USP, desenvolvedor e gamer. Otimista nato, calmo por natureza, acredita que informação pode mudar o mundo e que todo pequeno gesto vale a pena. Posta também no Twitter e Facebook.
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